Aguardado por muitos que estavam curiosos para saber como seria o filme estrelado por Jim Carrey, Rodrigo Santoro e Ewan McGregor, O Golpista do Ano integra aquela lista de filmes difíceis de se classificar o gênero e, por consequência, o resultado final.
Na história, Steven (Carrey) é um policial casado que não aceitava o fato de ter sido abandonado pela mãe quando criança. Mas o que parecia ser importante torna-se pequeno quando ele descobre, após um violento acidente de carro, que sua verdadeira felicidade estava em sair do armário: "Vou ser uma bichona!"
Com a nítida vontade de chocar o público, a cena que ilustra a sua "entrada" como ativo no universo gay é escancarada e pode causar desconforto em muita gente e prazer em outros. Em seguida, ele revela candidamente o porquê de ter passado a praticar golpes ao constatar que para ser gay tem que ter dinheiro e a formação escolar dele não permitia voos maiores.
E assim, praticar falcatruas ("sem machucar ninguem") surgiu naturalmente e o incrível, já que baseado em fatos reais, era o talento nato para as armações. Dotado de uma vontade ímpar de vivenciar o amor, Steven foi capaz de tudo para curtir este sentimento. Na prisão, de onde fugiu diversas vezes, era o rei dos privilégios com sua lábia. E foi lá que ele conheceu Phillip Morris (McGregor) seu grande amor, uma vez que sua primeira paixão, Jimmy (Santoro), era parte de um sofrido passado. A sequência em que ele apresenta o local para um novato e resume a solução para tudo ao ''pagamento de um boquete", nome popular para o felatio, é hilária.
O filme pode funcionar como uma crítica a ignorância dos americanos, seus valores, e sacaneia, de certa forma, a política de George Bush e o Estado do Texas, ambos vítimas de seus inúmeros golpes. Mas arrisco dizer que não será raro o espectador sentir dificuldades de se envolver na trama e buscar entendimento.
Com este argumento pra lá de maluco, os diretores e roteiristas de produções do tipo Como Cães e Gatos se aventuraram num campo minado para os conservadores e riquíssimo para aqueles que buscam novidade. Então qual é o problema de O Golpista do Ano ?
A impressão que dá é que o roteiro ficou perdido. Ao transitar entre uma comédia escrachada e um drama, a história de amor entre dois homossexuais (verdadeiro tema do filme) acaba ficando meio espremida, com raros momentos, de fato românticos, resumindo-se a diminutas cenas como uma dança ou um beijo, algo bastante comedido, embora cheios de intensidade e boas intenções.
Esta confusão, inclusive, pode ser o real motivo do triste título que o filme recebeu no Brasil. Portanto, não espere encontrar o filme do ano, mas não chega a ser um golpe em seu bolso.
fonte: adorocinema